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sábado, 5 de dezembro de 2009


Comentário Sobre o Poeta Job Patriota de Lima
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Tive a felicidade e honra de ter convivido com alguns grandes poetas repentistas que imortalizaram o Velho Rio Pajeú. Nasci no século em que nasceram Cancão, Pinto do Monteiro, Lourival Batista, Rogaciano Leite, Zé Dantas, Luiz Gonzaga, Job Patriota e tantos e tantos mestres da música e da poesia do Brasil de dentro, tão pouco conhecido pelo mundo dos urbanóides, como diz o mestre Elomar Figueira de Melo. Com alguns poetas e compositores, tive a felicidade de conhecer e conviver com eles, como é o caso de Zé Marcolino, Lourival Batista e Job Patriota, Cancão, e outros tantos. Entre todos eles, foi Job Patriota o que mais deixou luz de poesia e rastros de apoio e carinho para os poetas, como eu, surgiram após a geração dos poetas e compositores citados. Job Patriota, para os poucos que não conviveram com ele, e o "Rei do Lirismo" e da inocência, para quem como eu, teve a felicidade de passar noites e mais noites ouvindo-o a luz do luar, envolvido pelos devaneios boêmios, em que o mestre Job declamava ou glosando a luz da lua sertaneja. O poeta menino, foi para minha geração o grande vate que respirou poesia até na hora crespuscular da sua existência.
Fazer poesia, é uma coisa; viver a poesia é outra coisa totalmente diferente. Job Patriota dormia e acordava a luz da poesia. Não sabia e não vivia outra coisa, se não fosse o mundo da poesia. Emotivo, notívago, sentimental, lírico, inquieto, bucólico, nostálgico, fervilhante de poesia, estesiado pela estética do verso, contaminado pela sinergia do viver poético, Job Patriota, respirava poesia todas as horas do dia. Foram várias vezes que ao me encontrar com ele, o poeta já ia logo dizendo: "Poeta, vamos para algum canto, para eu dizer ou declamar alguma poesia. Ela está borbolhando dentro de mim, querendo explodir, e se eu não a libertá-la, enlouqueço". Ouvi Job dizer muitas vezes isso, e quando iamos para um lugar reservado, ele começava declamar, todo excitado, a pele vermelha e os olhos lacrimejando. Foi onde eu vi a poesia viva, muito além da escrita. Aqui deixo alguns versos do seu classissimo.
Saindo do hospital, onde foi internado por causa do álcool etílico Job Patriota disse:
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A dor de mim se aproxima
Eu pra não perder a calma
Passo uma esponja de rima
Nos ferimentos da alma.
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O Poeta Bucólico do Pajeú Cancão certa vez pediu a Job Patriota para falar dos desenganos da velhice, veja que soneto clássico Job fez.
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DESILUSÃO
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Sonhos, quimeras, ilusões, amores;
Tudo tive a minha mocidade,
Mas o tempo na sua tempestade,
Faz dos dias como faz comas flores.
II
Fiz das horas os meus elevadores
Pra subir a montanha da idade,
De cujo cimo fitando a mocidade
Eu pensava viver como os condores.
III
Nessa triste ascensão de amargas horas,
Vi somente crepúsculos ao invéis de auroras
E à velhice cheguei aos solavancos.
IV
Nem mais vestigios das primeiras cenas,
Por herança de tudo herdei, apenas
Brancas coroas de cabelos brancos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009


PRESENÇA DO PERFUME

Quando a mão com sutil delicadeza
Solta pingos de água num jardim
Cada pétala se abre dum jasmim
Num sorriso com dúlcida pureza.
Uma essência se exala com leveza
Dando beijos na mão com seu olor
Perfumando com plácido fulgor
Numa oferta divina do seu lume
"Sempre fica a presença do perfume
Entre os dedos da mão que rega a flor".

Cada dedo oferece os orvalhos
Derramados do céu da sua mão
E a flor faz surgir do coração
O presente divino dos seus galhos.
Colibris fazem vôos com atalhos
Numa pressa coberta de temor
Como lindos parceiros do amor
Beijam flores morrendo de ciúme
"Sempre fica a presença do perfume
Entre os dedos da mão que rega a flor".

A presença dos pingos cristalinos
Derramados da mão como presente
Faz a flor se abrir toda contente
Igualmente o sorriso dos meninos.
Do seu corpo surgem olores finos
Com mil beijos dum grande sedutor
Infiltrando-se nos dedos com ardor
Sem ouvir beija-flores com queixume
"Sempre fica a presença do perfume
Entre os dedos da mão que rega a flor".

Eu comparo a grandeza da verdade
Praticada através da ação humana
Quando a mão da virtude soberana
Joga os pingos divinos da bondade.
Sobre o campo da vida o amor invade
Com essências tocando o regador
Perfumando o seu gesto doador,
Onde Deus no seu peito logo assume
"Sempre fica a presença do perfume
Entre os dedos da mão que rega a flor".

Ps: Mote do poeta Xico Borges